Agite o Pop
por Giselle Beiguelman Raphael Escobar é pop. Só que não. Flerta com a publicidade, mas em um movimento anti-consumista que questiona os limites das políticas de acesso às drogas. Em Apologia 2, se apropria do repertório das propagandas das chamadas drogas lícitas, como as bebidas alcoólicas e o cigarro, para criar um curto-circuito sígnico entre moralidade, indústria e políticas de saúde pública. Ao inserir o crack, a cocaína, o LSD, a maconha, o ecstasy e, vejam só, o inocente lança-perfume que povoava os salões da animada classe-média festiva dos anos 1950, em displays usados em comércios diversos, mobiliza uma incômoda familiaridade com os usos dos prazeres e o cuidado de si. Esses foram temas caros ao filósofo Michel Foucault e você certamente não esperaria vê-los abordados no rótulo de uma garrafa de cerveja, em um bar da Barra Funda. Mas é parte da lógica de Raphael Escobar fazer com que as mensagens não “desçam redondo”, colocando as paixões e as virtudes como verso e reverso uma da outra, e não como contradições. colocando as paixões e as virtudes como verso e reverso uma da outra, e não como contradições. Há um processo inequívoco de “infiltração em circuitos ideológicos” que, propositalmente, não se insere em circuito algum, pois sua razão de ser é a condição do sujeito a quem é negado o direito de inserção social. Ao fazer com que dos próprios objetos da publicidade sejam o seu circuito ideológico, mais do que o seu processo de circulação, questiona ironicamente o que, e sobretudo quem, pode circular livremente. Nessa dinâmica, as práticas do agit prop, que marcaram a revolução russa nos seus primeiros anos, ganham outras dimensões, não como agente de uma pedagogia orientada para causas políticas, mas para pautas disruptivas, sobretudo da ordem e dos bons costumes. Beba com atenção. |
Agitate the Pop
by Giselle Beiguelman Raphael Escobar is pop. Or maybe not. He flirts with advertising, but in an anti-consumerist move that questions the limits of drug access policies. In Apologia 2, he appropriates the visual and discursive repertoire of ads for so-called legal drugs—like alcoholic beverages and cigarettes—to create a semiotic short-circuit between morality, industry, and public health policies. By inserting crack, cocaine, LSD, marijuana, ecstasy, and—believe it or not—the once-innocent lança-perfume that filled the ballrooms of the lively 1950s middle class, into commercial display stands, he stirs an unsettling familiarity with the uses of pleasure and the care of the self. These were dear themes to philosopher Michel Foucault, and you probably wouldn’t expect to see them printed on a beer label at a bar in Barra Funda. But it’s precisely part of Raphael Escobar’s logic to make messages not go down smoothly, placing passions and virtues as two sides of the same coin—rather than contradictions. There is an unmistakable process of "infiltrating ideological circuits" that, deliberately, does not insert itself into any particular circuit—because its very reason for existing is rooted in the condition of subjects who are denied the right to social inclusion. By making the very objects of advertising his ideological circuit—rather than their process of circulation—he ironically questions what, and especially who, is allowed to circulate freely. Within this dynamic, the tactics of agitprop, which marked the early years of the Russian Revolution, take on new dimensions—not as agents of a pedagogy aimed at political causes, but rather as tools for unsettling norms, especially those of order and decency. Drink with caution. |