Fuja Loko!
A primeira vez que eu vi o termo “Fuja Loko” foi lá por 2014, em um albergue para Povo de Rua que fica localizado na Zona Norte de São Paulo. O espaço era muito deteriorado, com filas enormes para se conseguir uma vaga para dormir, apesar de serem 3 complexos nos quais, ao todo, cabiam 900 pessoas. Lá atrás dos complexos, em uma parede no fundo pintada de azul, estava pixado bem grande ao lado de um carro que havia pegado fogo e estava em tons de fuligem: “FUJA LOKO!”
Depois disso, comecei também a reparar que o termo era usado na Cracolândia da Luz com bastante frequência:
“Fuja loko”, “Fujaaa loko”, “Fuja lokooo”, “Fujah loko”, “Fuja lokoh”, “Fujah lokoh”.
Uma expressão usada para qualquer tipo de sentimento, me fazia pensar o por quê de se fugir.
Bom, talvez em um contexto em que o Estado não está presente - ou só está presente via segurança pública - em que 500 marmitas já não conseguem servir a todos em uma fila, em que a carne é item de luxo, em que a opção para se reduzir os danos é usar antenas de carro para cachimbos ao invés de latas - pois mais uma vez o Estado se priva de discutir saúde pública com usuários de droga - talvez a única opção seja mesmo fugir.
Quem está na Boca do Lixo não consegue fugir nem para Miami, muito menos para Portugal. A fuga é interior, está entre o trago e o gole.
Não dá pra se condenar. Afinal, há grandes chances de que os que estiverem lendo esse texto também estejam entre o trago e o gole - talvez com a diferença que isso seja só mais uma fuga, enquanto na Boca do Lixo essa é a única possibilidade de fuga
Quem não quer fugir?
A gente foge dos boletos, do chefe, do dia a dia, do trabalho...
Tem gente que tem que fugir da polícia, da bomba, do gás, da internação compulsória, da chuva…
Olhando para a exposição do Dentinho, um artista que vem das ruas e habita esses contextos, talvez seja mais fácil entender as fugas.
Como que foge?
Não sei, mas vale a pena começar inchando o peito e dando aquele alto e bom grito:
Raphael Escobar, 2021
***
Fuja Loko! | Dentinho Curadoria: Raphael Escobar Montagem: Pablo Vieira Apoio: Birico
***
Dentinho é artista, redutor de danos e militante pelos direitos do povo de rua e usuários de drogas.
Foi beneficiário do Programa De Braços Abertos, onde começou a usar dos ateliês do projeto para o uso da arte como redução de danos.
Seus trabalhos partem do imaginário da cultura pop contraposto a realidade da cultura da calçada, evidenciando as tensões sobre as relações de classe e raça existentes dentro do universo da Boca do Lixo, e seu entorno com eles.
Dentinho é um dos artistas que constrói o coletivo Birico (@birico.arte), formado por artistas de diferentes condições sociais mas com a mesma vontade, fortalecer a Cracolândia
***
Agradecimentos: Birico, Camila Djurovic, Daniel Mello, Ivonne Villamil, Ivar Rocha, João Leoci, Mano Penalva, Massapê e Pablo Vieira
A primeira vez que eu vi o termo “Fuja Loko” foi lá por 2014, em um albergue para Povo de Rua que fica localizado na Zona Norte de São Paulo. O espaço era muito deteriorado, com filas enormes para se conseguir uma vaga para dormir, apesar de serem 3 complexos nos quais, ao todo, cabiam 900 pessoas. Lá atrás dos complexos, em uma parede no fundo pintada de azul, estava pixado bem grande ao lado de um carro que havia pegado fogo e estava em tons de fuligem: “FUJA LOKO!”
- Caralho, isso quer dizer tanta coisa sobre esse lugar!
Depois disso, comecei também a reparar que o termo era usado na Cracolândia da Luz com bastante frequência:
“Fuja loko”, “Fujaaa loko”, “Fuja lokooo”, “Fujah loko”, “Fuja lokoh”, “Fujah lokoh”.
Uma expressão usada para qualquer tipo de sentimento, me fazia pensar o por quê de se fugir.
Bom, talvez em um contexto em que o Estado não está presente - ou só está presente via segurança pública - em que 500 marmitas já não conseguem servir a todos em uma fila, em que a carne é item de luxo, em que a opção para se reduzir os danos é usar antenas de carro para cachimbos ao invés de latas - pois mais uma vez o Estado se priva de discutir saúde pública com usuários de droga - talvez a única opção seja mesmo fugir.
Quem está na Boca do Lixo não consegue fugir nem para Miami, muito menos para Portugal. A fuga é interior, está entre o trago e o gole.
Não dá pra se condenar. Afinal, há grandes chances de que os que estiverem lendo esse texto também estejam entre o trago e o gole - talvez com a diferença que isso seja só mais uma fuga, enquanto na Boca do Lixo essa é a única possibilidade de fuga
Quem não quer fugir?
A gente foge dos boletos, do chefe, do dia a dia, do trabalho...
Tem gente que tem que fugir da polícia, da bomba, do gás, da internação compulsória, da chuva…
Olhando para a exposição do Dentinho, um artista que vem das ruas e habita esses contextos, talvez seja mais fácil entender as fugas.
Como que foge?
Não sei, mas vale a pena começar inchando o peito e dando aquele alto e bom grito:
- FUJA LOKO!!
Raphael Escobar, 2021
***
Fuja Loko! | Dentinho Curadoria: Raphael Escobar Montagem: Pablo Vieira Apoio: Birico
***
Dentinho é artista, redutor de danos e militante pelos direitos do povo de rua e usuários de drogas.
Foi beneficiário do Programa De Braços Abertos, onde começou a usar dos ateliês do projeto para o uso da arte como redução de danos.
Seus trabalhos partem do imaginário da cultura pop contraposto a realidade da cultura da calçada, evidenciando as tensões sobre as relações de classe e raça existentes dentro do universo da Boca do Lixo, e seu entorno com eles.
Dentinho é um dos artistas que constrói o coletivo Birico (@birico.arte), formado por artistas de diferentes condições sociais mas com a mesma vontade, fortalecer a Cracolândia
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Agradecimentos: Birico, Camila Djurovic, Daniel Mello, Ivonne Villamil, Ivar Rocha, João Leoci, Mano Penalva, Massapê e Pablo Vieira