Usuário, realizado para o 36ºPanorama da Arte Brasileira do MAM, mostra a diferença de qualidade da droga utilizada, a depender do poder aquisitivo. A falta de controle do Estado sobre a droga consumida é prejudicial a todos, mas principalmente às classes mais baixas. O proibicionismo não evita seu uso, mas vulnerabiliza um tipo de usuário. Com o trabalho, ensino pessoas de diversas classes sociais, do Jardim Europa à Cracolândia, a usarem um teste colorimétrico para descobrir quais são os componentes e substâncias que estão nessa droga (açúcar, leite em pó, codeína, anfetamina, ritalina…). A ideia é difundir essa ação para que as pessoas saibam o que estão usando. Depois das testagens, faço uma catalogação das drogas e seu nível de pureza, por classe social. O recorte considera o valor do metro quadrado onde a droga foi consumida e a base salarial do usuário. Por que a cocaína da quebrada tem mais café que a cocaína do Jardim Europa? Por que não existe LSD no Brasil? Por que a maconha tem muita concentração de amônia nas classes baixas, nas classes altas, não? Quando existe uma espetacularização sobre o tráfico, é sempre do pobre. O rico é só um usuário; o pobre é criminalizado.
Essa é uma pesquisa que desenvolvo há anos, e fico feliz de poder equivaler a minha prática artística, o meu emprego formal e a minha militância, a partir de uma discussão que é extremamente moralista, no Brasil, que é a situação do usuário de droga. Em trabalhos anteriores, eu pautei o uso da cachaça, do crack. São novas possibilidades, outros jeitos de pensar o cuidado com o usuário de drogas. Porque, é isso: o playboy nunca vai ser preso. Ninguém condena um empresário que chega em casa e mata uma garrafa de uísque, mas sempre condenaram o pedreiro que sai do trabalho e toma uma garrafa de cachaça, esse é pinguço. A cocaína e o crack, por exemplo, são a mesma droga. Por que combatem tanto o usuário de crack e nunca falam da cocaína? É preciso abrir essa discussão enquanto educação, enquanto política pública. |
Usuário, conceived for the 36º Panorama da Arte Brasileira do MAM (36th Brazilian Art Panorama at the MAM), shows the difference in the quality of the drug used, depending on the purchasing power. The lack of state control over the drugs consumed is harmful to everyone, but especially to the lower classes. Prohibitionism does not prevent its use, but makes a type of user vulnerable. With this work, I teach people from different social classes, from Jardim Europa to Cracolândia, to use a colorimetric test to find out which components and substances are in that drug (sugar, powdered milk, codeine, amphetamine, ritalin…). The idea is to spread this action so that people know what they are using. After testing, I catalog the drugs and their level of purity, by social class. The research considers the value of the square meter where the drug was consumed and the user’s salary base. Why does the cocaine from the Quebrada has more coffee than the cocaine from Jardim Europa? Why is there no LSD in Brazil? Why does marijuana have a lot of ammonia concentration in the lower classes, in the upper classes, no? When there is a spectacularization about the traffic, it is always the poor. The rich is just a user; the poor is criminalized.
This is research that I have been developing for years, and I am happy to be able to equate my artistic practice, my formal job and my activism, based on a discussion that is extremely moralistic in Brazil, which is the situation of the drug user. In previous works, I guided the use of cachaça, crack. These are new possibilities, other ways of thinking about the care for drug users. Because, that’s it: the playboy will never be arrested. Nobody condemns a businessman who comes home and kills a bottle of whiskey, but they have always condemned the bricklayer who leaves work and drinks a bottle of cachaça, that is a pinguço. Cocaine and crack, for example, are the same drug. Why do they oppose so much the crack users but never talk about cocaine? It is necessary to open this discussion as an education, as a public policy. |
video completo em www.youtube.com/watch?v=gs4c-vmVqJI